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Salar de Uyuni – A Magia branca 

A paisagem parece ter nascido de uma inspiração surreal da natureza. A primeira impressão é a de uma visão polar, só que em vez de neve é sal que brilha, como partículas de cristal, estendendo-se por uma imensidão branca até o horizonte, onde esbarra com o céu de um intenso azul. 

Coberto por um mar de sal, cercado por vulcões de até 5000m, atividades geotermais, ilhas de cactos gigantes, vales, desertos, formações rochosas, lagos coloridos com flamingos, o Salar de Uyuni é o único ponto natural brilhante do planeta que pode ser visto do espaço. 

Enigmático e surpreendente, é um mágico espaço de sal e silencio que abre a porta da Bolívia para o resto do mundo.

Localizado ao sudoeste da Bolívia, no departamento de Potosí e Oruro, a uma altitude de 3.665m acima do nível do mar, o Salar de Uyuni é considerado a maior planície salgada da Terra, com aproximadamente 12.000k2 de extensão.

A viagem ao Salar é quase obrigatória para turistas e aventureiros que passam pela Bolívia. A porta de entrada para o Salar é o povoado de Uyuni. Em Aymara,(dialeto indígena) o termo “Uyuni” significa “pessoa que tem uma Fazenda”. 

Quem resolve visitar esse deserto branco, deve estar preparado para encarar uma pequena ventura. Para se chegar ao povoado de Uyuni, é uma maratona que inclui vários meios de transportes, como: avião, ônibus, veículo 4X4, ou trem (o aeroporto mais próximo fica 

na cidade de Potosí a 220km. Mas, acredite, vale a pena o trabalho para chegar até lá.

Entre as várias alternativas, a mais conveniente é pegar um voo na capital La Paz até a cidade de Potosí, de onde partem os ônibus até Uyuni. Como a maioria das estradas que levam ao povoado não é asfaltada, o caminho é um verdadeiro reboliço de pedras e cascalhos, com trechos em obras. Assim, o trajeto entre Potosí e Uyuni pode levar de 4 a 5 horas. Outra opção é embarcar em ônibus de linha 

regular em La Paz para Oruro (aprox. 3 horas de viagem) e dali seguir em trem até Uyuni que são 326km em mais ou menos 7 horas. É possível também chegar à Uyuni pelo Chile, via San Pedro de Atacama. 

A estrada de Potosí até Uyuni passa por paisagens inusitadas, com vista ao panorama da Cordilheira Oriental, plantações de Quinoa, cerrados, montanhas, povoados indígenas perdidos no tempo, infindáveis campos salpicados por bandos de lhamas e vicunhas, que dão suavidade à aridez do solo.

A remota cidade do Salar de Uyuni é um tipo, “fim de mundo” de aspecto desolado, (quase) sem interesse turístico, com hotéis rústicos e um par de ruas asfaltadas. Visto de longe, o povoado parece uma faixa cinza no meio do nada, misturando-se à paisagem desértica.

Situado num altiplano a 3.665m e pouco mais de 1km de raio, Uyuni tem uma população de aproximadamente 20 mil habitantes, de maioria quéchua, herdeiros da cultura secular do império Inca. O povoado não tem muito a oferecer, mas basta uma caminhada pelas ruas do centrinho, pelo mercado campesino ou pela feirinha de artesanato, na Avenida Arce, para mergulhar na cultura do povo.

É, no mínimo, exótico ver o vai-e-vem das “Cholas” – camponesas indígenas, de expressão dura e tez queimada, dentes com ouro e sorriso velado – que mantém, há séculos, a mesma forma de se trajar: saias pregueadas, em cores vibrantes, até os pés sobre anáguas encorpadas(chamadas polleras), blusas estampadas, chapéu-coco típico coroando duas tranças, sempre com um xale colorido nas costas, para transportar uma criança ou algum fardo – muitas vezes mais pesado do que o próprio corpo. Esse visual está relacionado ao orgulho de sua identidade.

Com isso, é lógico que a figura das “cholas” desperta muito a curiosidade do forasteiro. Mas não adianta tentar enquadrar o alvo num “clique” despretensioso, pois…“para sacar fotos hay que  pagar!”, dizem.

RUMO AO SALAR

É possível visitar o Salar por conta própria, porém é necessário contar com um veículo 4X4, ter prática para dirigir em terrenos acidentados e contratar um guia que conheça muito bem o local. O passeio independente é totalmente desaconselhável, já que as operadoras de turismo locais oferecem o tour com total segurança e guias especializados, por um preço acessível. 

Os tours são feitos em veículos 4X4 e saem de Uyuni por volta das 9 horas. A pontualidade não é uma prática que deve ser esperada. O circuito de três ou quatro dias (que sai e volta para Uuyni) cumpre um roteiro de aproximadamente 1000 quilômetros, passando por lugares de uma beleza sem precedentes e paisagens de tirar o fôlego até mesmo do mais experiente viajante. 

Cada veículo 4×4 mais parece um caminhão de mudança. Além de seis turistas, o motorista, o guia e a cozinheira (locais), ainda há uma tralha considerável amarrada ao teto. São mochilas, mantimentos, panelas, comida, sacos de dormir, garrafas de água e reserva de combustível, pois não há qualquer chance de abastecimento durante o trajeto. Essa regra não se aplica se a opção de passeio for de apenas um dia. 

E, depois de amarrar a tralha e recolher cada passageiro, finalmente os veículos partem de Uyuni para a grande aventura no deserto salgado.

1º DIA (do circuito pelo Salar)

Cemitério de Trens

O primeiro pit stop, antes de ganhar a estrada que leva ao Salar, é no inusitado cemitério de Trens, a poucos quilometros do povoado. 

O local foi, no passado, um importante cruzamento de ferrovias – utilizadas para transportar minérios – que ligava a Bolívia ao Chile e à Argentina, de 1889 a 1987. 

Com a desativação da ferrovia, locomotivas e vagões foram abandonados e formaram um páteo de trens sucateados.

É uma coleção incrível de históricas locomotivas a vapor, corroídas pelo sal e enferrujadas, de todas as formas e tamanhos, que colorem o grande descampado desértico.

O fato mais surpreendente é que entre as sucatas, estão os restos do trem que foi assaltado por Butch Cassidy e Sundance Kid, dois foras da lei norte-americanos que teriam sido mortos na Bolívia em 1908 , acusados pelo exército local – cena mostrada no filme Butch Cassidy de 1969, com Paul Newman (Cassidy) e Robert Redford (kid)

SALINAS DO SALAR

A 31 quilômetros de Uyuni, seguindo viagem em direção a noroeste, a próxima parada é no “Pueblo de Colchani”. Esse minúsculo povoado vive da extração do sal, utilizando o mais tradicional e remoto processo de refinamento, iodização e embalagem. Tudo é feito artesanalmente.

Em Colchani é possível, ainda, reforçar o estoque de agasalho nas barraquinhas de artesanato – para enfrentar as baixas temperaturas do Salar – a preços módicos, quase simbólicos. São blusas, xales, cachecóis de lã e alpaca, em cores vibrantes, usadas com a criatividade artesanal da cultura quéchua. E, acredite, por muito que você ache que está levando o suficiente, o frio vai conseguir atravessar as camadas e entrar nos ossos, principalmente durante as noites de inverno e na meia estação. 

Imensidão Branca

A partir de Colchani, o cenário vai se transformando. Aos poucos, o pó começa a diminuir e a paisagem se torna cada vez mais branca. A primeira impressão é de se estar num desolado canto do Ártico. A ofuscante brancura estende-se a perder de vista, até encontrar o azul do céu no horizonte. E, assim, quando a gente se dá conta, já está nos domínios do Salar de Uyuni.

Não existe uma estrada delimitada. Os experientes motoristas vão buscando o melhor caminho na imensidão branca, que pode variar de acordo com a estação seca ou chuvosa. Poucos quilômetros depois de Colchani, é possível avistar centenas decones de sal, amontoados pelos extratores, uma vez que é preciso remover uma camada de 5cm para atingir o sal bom para o consumo nacional. 

Logo na entrada do Salar surge a pergunta inevitável, e à qual os guias mais respondem: como surgiu tanto sal a uma altitude de 3.663 metros acima do nível do mar? A remota origem desta fenomenal crosta salina deve-se ao pré-histórico Lago Minchin, (de 40 a 25 mil anos atrás) que ocupava uma bacia no altiplano, em grande parte do sudoeste da Bolívia. Quando as águas do Minchin evaporaram, restaram duas enormes poças de argila, chamadas de lago Poopó e Uru Uru e mais duas gigantescas concentração de sal: os Salares de Uyuni e Coipasa. 

A área de 12.500km2 do Salar representa, aproximadamente, metade da superfície do estado de Sergipe. O solo é formado por 11 camadas com espessuras que variam de 2 a 10 metros, e atinge uma absurda profundidade de mais de 121 metros. A superfície do Salar parece um quebra-cabeça, onde as peças são placas hexagonais, que se encaixam perfeitamente formando uma vasta manta branca de retalhos. São as chamadas gretas de contração e deve-se ao contraste da temperatura mais quente durante o dia e o intenso frio durante a noite. Mesmo no verão, as temperaturas noturnas podem atingir graus negativos.

O mais interessante é que o salar continua se expandindo, uma vez que, as águas das chuvas acabam depositando na parte mais baixa do altiplano os minerais que lavam das encostas das montanhas e vulcões, que, por sua vez, não têm saída para o mar. Ou seja, o salar sofre uma drenagem interna e se auto alimenta com os resíduos minerais. Além do sal, o Salar constitui uma das maiores reservas do mundo de Litio, (minério usado para fabricar desde remédios, baterias de celulares e futuro substituto energético do Petróleo). É composto também de Potássio, Boro, Magnésio, Carbonatos e Sulfatos de Sódio.

Em ritmo de aventura

A programação dos três dias e duas noites é intensa. O circuito de 1000 km, que sai de Uyuni e volta para lá, percorre o Salar, a Reserva Nacional “Eduardo Avaroa” (REA), as Lagoas e inúmeros pontos de interesse pelo caminho. As acomodações são precárias, o frio é de rachar, cada refeições torna-se uma experiência à parte. O cardápio, nada convencional, inclui até carne de Lhama –que representa a carne de boi para o brasileiro – atum em lata e, com muita sorte, um franguinho racionado, mas, acredite: no fim do dia ninguém vai se lembrar de que a carne de Lhama estava uma sola de sapato. 

À noite, o comentário no alojamento gira em torno do deslumbre de cada passeio.

Os 4X4 andam em comboio pela vastidão branca. Vans de várias agências acabam se juntando em cada ponto de visita. Depois de algum tempo rodando pela infinita paisagem branca chega-se ao inusitado Hotel de sal (que hoje funciona apenas como museu).

À primeira vista, parece uma construção feita com blocos de mármore branco. Mas os blocos são de sal maciço. Aí, dá aquela tentação de passar o dedo na parede e dar uma lambidinha para conferir, eu mesma vi gente fazendo isso. Dentro do Hotel, está exposta uma coleção de esculturas (quéchuas), que não poderiam ser de outro material, senão de blocos de sal. 

Bandeiras de vários países hasteadas em frente ao Hotel de Sal

Mas, a atenção dos grupos fica por conta das bandeiras dos vários países (inclusive a do Brasil) hasteadas em frente ao Hotel de Sal. Enquanto os patriotas disputam o espaço para a foto com o seu respectivo lábaro, o almoço é preparado no maleiro de cada veículo, (o nosso era um Land Rover). E, nada mais espetacular do que dar uma de farofeiro, admirando aquela paisagem infinitamente branca.

Ilha de Cactos Gigantes (Ilha do Pescado)

Após o banquete ao ar livre, o passeio continua pela “estepe” salgada. E quando você acha que não vai se deslumbrar com mais nada depois de tudo que já viu até ali, vai se deparar com um lugar “do outro mundo” e o ponto mais visitado do salar: a Ilha Incahuasi. Localizada no coração do Salar, a 80 km a oeste de Colchani, e a 102km de Uyuni, a ilha ergue-se como a miragem de um oásis, em pleno deserto branco. Também chamada de Isla del Pescado, a ilha calcária é coberta por milhares de cactos gigantes – o “Trichoreus”- e cercada pela planície de sal até onde avista alcança.

Subir a íngreme Isla del Pescado entre cactos de até 12 metros de altura pela trilha dos antigos Incas e Aymarás, é uma experiência mágica. 

Do topo, a dramática vista é de tirar o resto do fôlego (um pouco dele a gente deixa durante a subida, já que o salar está a 3.663m de altitude).

A imensidão branca toma conta da paisagem e todo resto parece insignificante e minúsculo comparado à grandiosidade do panorama “polar”. É o momento em que dá para se imaginar no topo do mundo, vendo pessoas e carros como se fossem miniaturas, lá em baixo, no sopé da Ilha do Pescado.

Ilha do Pescado – Altar de rituais

No centro da parte mais alta da Ilha do Pescado, está o antigo altar de pedra, local considerado um dos mais sagrados da região, onde integrantes da civilização Aymará realizavam rituais de oferendas em agradecimento à“Pachamama” (mãe Terra). Esse ponto é um dos lugares prediletos para os amantes da fotografia. 

Ilusão de ótica

Depois da escalada na Ilha do Pescado, é hora dos “cliques” mais divertidos da viagem. Em razão de a topografia ser absolutamente plana, é possível fazer com que uma pessoa fique à mercê de uma  monstruosa miniatura de dinossauro na foto, por exemplo. É um momento bizarro em que se vê todo mundo deitado no chão de sal (em decúbito ventral) com a câmera na mão para montar essa ilusão ótica, com o alvo a ser fotografado. Muitos guias fornecem o pequeno bichinho para as fotos.

Mar de Sal

Após o período das chuvas, que vai de dezembro a abril, o Salar fica coberto por uma lâmina de água, que pode atingir até 0,80 centímetros de profundidade. Mas os experientes motoristas só arriscam a travessia pelo centro do Salar com, no máximo, 0,50 centímetros, o que ocorre entre maio a setembro, época ideal para o passeio, que apesar do frio, é quando se vê parte do Salar seco e parte sob as águas. 

E é na época em que parte do Salar ainda está inundado que as 4X4 vão deslizando sobre a lâmina de água e levantando pequenas ondas como se fosse um bote. A sensação é extraordinária. O lençol de água funciona como um gigantesco espelho e reflete a paisagem invertida, elevando ao quadrado a beleza do cenário. E, nessa visão extraordinária, é difícil separar o céu da Terra.

Depois de uma longa travessia pelo salar, chegamos já de noite ao minúsculo povoado de San Juan del Rosário, a 4164 m de altitude acima do nível do mar.

A vila é composta, praticamente, por pequenos alojamentos, onde as operadoras de turismo acomodam os visitantes. O albergue San Juan é um dos poucos com luz elétrica, cama com colhão de verdade e, de quebra, por alguns bolivianos se compra um banho quente. Apesar de não haver nem sombra de aquecedor, dá para sobreviver ao frio com a ajuda dos sacos de dormir, além de alguns cobertores de lã. Quem não levou o saco de dormir, poderá alugá-lo na própria agência de turismo, antes do passeio. 

Em San Juan algumas pessoas podem sentir os efeitos do mal de altitude (soroche). O dica é chá de coca (erva que faz parte da cultura nacional) encontrado em qualquer biboca, muito líquido, e nada de álcool. O jantar (que está incluído no pacote) é servido no refeitório do alojamento, mas o evento vai além da refeição, vira uma espécie de confraternização entre os grupos, hora em que as experiências e fotos do dia são compartilhadas entre as pessoas de todos os cantos do mundo.   

2º DIA 

Necrópoles Aymará

Com o sol raiando, o grupo faz o primeiro passeio da jornada do segundo dia. Uma caminhada de uns 20 minutos por uma picada de terra, leva ao místico Cemitério da civilização Aymará: a Necrópolis Arqueológica de San Juan (séculos XII-XV d.C). Essa necrópoles é composta por 45 tumbas, distribuídas num planalto árido, das quais, mais da metade expõem restos de antigas práticas mortuárias -restos humanos, cerâmicas, tecidos e utensílios de pedra. São rochas ocas de calcário, onde os aymará deixavam, para morrer, os seus velhos ou incapazes de trabalhar ou acompanhar a família pelos campos. Os Aymará compunham a civilização Inca e foram conquistados pelos Quéchua entre o século XV e XVI.

Deserto de Siloli

No Deserto de Siloli, a paisagem muda de branca do Salar para avermelhada do deserto Seguindo ao sudoeste de San Juan, e deixando para trás o pequeno Salar de Chiguana O caminho em aclive, leva em direção às montanhas pelo chamado “caminho do Condor”. A paisagem segue sempre emoldurada pelas montanhas nevadas e pelo cordão vulcânico, num cenário de extrema beleza natural.

Almoço no Lago Cañapa

A essa altura do passeio, já está na hora do rango, e nada mais esplendoroso do que comer (mesmo que seja carne de lhama) olhando para a magnífica vista do Lago Cañapa.

Flamingos do Lago Cañapa

A poucos quilômetros ao sul do Lago Cañapa descortina-se um rosário de Lagoas de sal em várias tonalidades, repletas de flamingos: a Laguna Hedionda, a Chiar Khota e a Ramadita, que emergem como um milagre do solo desértico. 

O dia é curto para tudo o que tem de ser visto, assim, o passeio deve continuar e é pé na estrada entre as montanhas, no chamado “Caminho dos Incas” uma área pedregosa, onde as 4X4 gingam de um lado a outro para contornar as rochas maiores. 

Montanha das sete cores

O caminho dos Incas leva ao chamativo “Cerro Siete Colores”, que mais parece uma pintura em tela, elaborada em sete tons da aquarela. A presença do enxofre e outros minerais produzem nas montanhas um efeito dégradé, que vai desde o terracota ao mostarda. É uma região muito alta e ventosa. 

Continuando a jornada, ainda em direção ao sul da reserva, seguimos para o deserto de Siloli. Trata-se de uma extensão do famoso Deserto do Atacama, com areias douradas, cercado por picos nevados. O Deserto de Siloli compreende a região do Salar Uyuni, os vulcões e as lagunas altiplânicas no sudoeste da Bolívia. 

Deserto de Pedra

O próximo destino é o Deserto de Pedra, (a 4600m) com formações rochosas inusitadas, caprichosamente esculpidas pelo vento.

A mais célebre e mais fotografada, é a chamada “árbol de piedra”(árvore de pedra), que se assemelha ao formato de uma grande árvore. A proeza de escalar algumas rochas por ali, fica por conta dos que continuam com fôlego a essa altitude. 

Laguna Colorada

A última visita do dia, e também a mais aguardada é a “Laguna Colorada” (Lagoa Colorida) que fica a uns 30 km ao sul do Deserto de Pedra. Após uns 300metros da entrada da Reserva Nacional da Fauna Andina Eduardo Avaroa, surge a gigantesca depressão preenchida pelas águas avermelhadas da Laguna Colorada. Lá em baixo, a impressionante lagoa vermelha, com nuances de amarelo (do enxofre) e de branco (do bórax e do sal) provoca um estado de contemplação, e é o clímax do passeio.

A pequena profundidade (80cm) funciona como um espelho d’água e faz refletir a montanha invertida, que também se torna vermelha. A visão é estarrecedora.

A cor avermelha da Laguna Colorada varia de tonalidade segundo as condições climáticas e a hora do dia devido aos pigmentos das algas. A lagoa abriga três espécies de flamingos e é um dos poucos lugares em que se podem encontrar essas aves juntas, compartilhando o local de nidificação. 

Com o sol se pondo, a ordem é garantir um cantinho para dormir. Algumas operadoras têm seus próprios alojamentos, outras usam hospedagens mantidas por famílias locais. Na alta estação, há uma espécie de corrida entre as Vans para chegar ao povoado primeiro e escolher o melhor refúgio. 

Alojamento Salvador Sulipas 

O alojamento Salvador Sulipas, no povoado de Huaillajara, fica dentro da Reserva Nacional, a poucos quilômetros da Laguna Colorada. Com sorte, a eletricidade funciona das 19 às 21, o banheiro é comunitário, água quente nem pensar. A maioria dos quartos aloja de 4 a 6 pessoas. Depois do jantar, servido no refeitório, e do costumeiro bate papo entre os grupos, é hora de enfrentar o frio dentro dos sacos de dormir e fazer um retrospecto das maravilhas visitadas durante o passeio. 

3º DIA

 Campo Geotermal Sol de Mañana

As atividades do terceiro dia começam cedo, aliás, de madrugada e ainda sem o café da manhã. O destino é o campo geotermal Sol de Mañana, mais ao sul da Laguna Colorada.

Essa área, com uma extensão de 10 km², entre 4800m and 5000m de altitude  é caracterizada por uma intensa atividade vulcânica, com lagos borbulhantes de lama e fontes sulfurosas de gêiseres com jatos de vapor de 60 a 90 Cº que atingem até 50 metros de altura. A boa justificativa para acordar tão cedo é que as fumarolas de vapor só podem ser vistas no crepúsculo da manhã. A área, que mais se parece com o caldeirão do inferno, exala um forte e nauseante aroma sulfuroso. 

Termas de Polques

O café da manhã é servido a poucos quilômetros dos gêiseres “Sol de Mañana”, num refeitório em frente às “Termas de Polques”, uma piscina termal represada à beira da “Laguna Salada”, onde novamente, todas as vans acabam se encontrando. Nada melhor do que um banho quentinho (a 30Cº) depois de uma noite congelante no salar.

Com o sol ainda raiando, dá para fazer fotos interessantes, aproveitando o contraste do vapor, com o brilho dos raios nas águas do lago. E é um troca-troca de câmeras entre os grupos, porque todo mundo quer ser fotografado no vapor, em plena aurora.

Seguindo o itinerário para o extremo sul da Reserva Nacional Eduardo Avaroa, a uns 52 km ao sul da Terma “Sol de Mañana”, e já  aproximadamente 400km a sudoeste de Uyuni, ergue-se majestoso  o mítico Vulcão Licancabur nos seus 6000 metros de altitude, cujo pico abriga ruínas de uma antiga cripta Inca. 

Vulcão Licancabur  6.000m separa Bolívia e Chile

O  Licancabur tem uma curiosa particularidade: uma face é boliviana e a outra chilena. No formato de um cone perfeito, o Licancabur domina duas das mais belas paisagens da América do Sul: a Província sul do Lípez, na Bolívia, que engloba a Reserva Eduardo Avaroa e o Atacama no Chile.

Aos pés desse gigante adormecido, repousa a “Laguna Verde” (4400m). A incrível tonalidade esmeralda da lagoa intensifica o contraste com o cinematográfico cenário pastel, proporcionando um espetáculo inusitado de contrastes, formas e cores. A coloração esverdeada é causada pela concentração de sedimentos minerais como o chumbo, enxofre e carbonato de cálcio. E, nessa imensidão de desertos brancos e lagoas coloridas mesclam-se os matizes da aurora ou do ocaso, despertando intensas sensações.

Terreno semelhante a Marte – experiência com robôs da Nasa 

Essa região montanhosa do Parque tem características semelhantes a Marte. Não é por acaso que cientistas russos e os americanos da NASA realizaram ali testes com os robôs, antes de enviá-los para aquele planeta. 

O Licancabur e a Laguna Verde – no extremo sul de toda a Reserva – são os pontos mais distantes de Uyuni  – no circuito de 3 ou 4 dias  que sai e volta para aquele povoado. Ali, próximo à Laguna Verde, a estrada se bifurca, e é onde alguns grupos seguem nas 4×4 para o Atacama, no Chile, enquanto outros iniciam o longo retorno para Uyuni. A volta é por outro caminho (a leste do percurso de ida).

Deserto  de Dali – formações surreais

A partir daí, a viagem não fica menos interessante e revela surpresas inesperadas de beleza e vida, como  lagos de sal salpicados de flamingos, picos nevados, vales, montanhas e desertos dourados como o pitoresco“Desierto de Dali” – assim batizado em homenagem a Salvador Dali, dada a incrível semelhança de formas com os quadros desse famoso pintor catalão. Tem, ainda, a vista ao “Vale de las Rocas” cuja ação do vento torneou em rochas imagens bizarras de amimais e figuras humanas.

Ao cair da tarde, os veículos vão chegando de volta à cidade de Uyuni, e se apinhando ao longo da Avenida Ferroviária, que fica em frente à estação  ferroviária, local onde se encontra a maior parte das operadoras de turismo do Salar. 

A cada noite, recomeça o vai-e-vem dos mochileiros, e o movimento toma conta da rua Arce e Plaza del Reloj –ícone da cidade- onde se concentram os cafés, lanchonetes e restaurantes. Os que chegam, estão cheios de respostas e muitas vezes compartilham as experiências com os que ainda não foram e que estão cheios de perguntas.

Enquanto isso, a natureza mágica do Salar permanece generosa, aguardando cientistas que vêm em busca da verdade, turistas em busca da beleza e aventureiros atrás de liberdade de espírito.

E, como num ciclo, o povoado amanhece vazio, à sombra de sua rotina “quéchua”, para que a noite vibre com forasteiros curiosos vindos de todas as partes do mundo. 

Texto (por Marcia Pavarini) publicado pela Revista Viaje Mais edição 126

DICAS

 – Levar roupa abrigada de inverno para montanha, os ventos são fortes e a temperatura baixa, notoriamente durante à noite;  protetor solar, óculos de sol, chapéu ou boné. Em qualquer época do ano faz muito frio à noite.

 –  Os pacotes que as operadoras de Uyuni oferecem, incluem veículo 4X4, guia/motorista, alimentação, alojamento, fora os ingressos ao Parque Nacional e  museus. As operadoras promovem tours de 1,2, 3 ou  4 dias. O preço é cobrado por pessoa e conforme a opção. O valor varia de 60 a 120 dólares, de acordo com a escolha do freguês. (inclui o tour com guia, as refeições e o alojamento). A dica é comprar o pacote diretamente em Uyuni, que sai mais em conta.

 – A melhor época para visitar o Salar é entre os meses de maio e novembro. Nos meses de junho a setembro (inverno com até -15Cº) as temperaturas são baixas durante o dia e congelantes à noite, mas é a época em que o Salar se encontra parte seco e parte inundado e com céu limpo e azul, ideal para fotografia. Os meses de chuva  (verão) são entre janeiro e março, quando o Salar está normalmente inundado e se transforma num grande lago com até 0,80 centímetros de profundidade, o que muitas vezes impede a saída dos tours.

Para evitar o mal de altitude é recomendável ficar uns dias em Uyuni para aclimatar-se, antes de sair para o passeio ao Salar. 

Operadora em Uyuni: Há dezenas delas, mas uma das mais bem cotadas é a Andes Salt Expeditions Tour Operator,  

www.andes-salt-uyuni.com.bo 

com escritório na Av. Ferroviária 56 

Há  inúmeros alojamentos e pensões na cidade do Salar de Uyuni, com preços para todos os bolsos. Quem quer mais conforto, pode ficar no: Girasoles Hostel, no centrinho comercial, por 450 Bolivianos o que dá aproximadamente U$ 60  http://www.hotelgirasoles.net/ 

ou no Samay Wasi Hotel: http://www.hotelessamaywasi.com/uyuni.html 

No Brasil, a Climb Tour Operator  www.climb.tur.br  (11-2649 2772) oferece um pacote para o Salar de 6 dias e 5 noites, incluindo também a visita turística ao Valle de La Luna, em La Paz.

Melhor Pizza: Na Arco Iris Pub Pizzaria com música ao vivo aos sábados . Av. Arce 27

Comida típica: 

– Um bom almoço boliviano é composto de sopa, um prato principal com pão e sobremesa. 

Chicharrón de lhama: Carne de lhamafrita e servida com milho e 

queijo. …

Timpu de lhama: carne de lhama cozida com arroz, batata e pimenta 

amarela.

Sopa ou risoto de Quinoa

Descubra a natureza mágica da Bolívia clicando aqui.

Márcia Pavarini

Marcia Pavarini é advogada de profissão, fotógrafa e apaixonada por viagens. Compartilha suas andanças pelo mundo no Diário das 1001 Viagens.

Um comentário sobre “Salar de Uyuni – A Magia branca 

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