Kutna Hora – A Capela dos 40 Mil Ossos Humanos
Texto e fotos Márcia Pavarini
Mosteiro de Sedlec
Muita gente acha que a República Tcheca é um destino do tamanho dos limites de Praga. Sem dúvida, sua bela capital exerce um fascínio incontestável no visitante, mas há muito mais do que Praga para se ver em um dos países mais bonitos do Leste europeu.
Interior da Capela de Todos os Santos
Entre as várias cidades que conquistaram lugar na Lista de Patrimônios da Humanidade da UNESCO, além do centro histórico de Praga, está a cidade de Kutna Hora (a 65 km a oeste da capital Praga), com sua capela adornada com ossos humanos.
Candelabro de ossos
Usando muita imaginação e economizando material de acabamento, um monge e um arquiteto, decoraram uma igreja inteira, utilizando 40 mil (eu disse quarenta mil) ossos humanos.
Acortinado de ossos
A ideia surgiu mais ou menos assim: Em 1278, o abade Henrique, do mosteiro de Sedlec, foi enviado pelo rei Otakar II a uma peregrinação à Jerusalém.
Na volta para sua cidade, o abade trouxe na bagagem uma URNA contendo terra da cidade Santa. Sem imaginar a repercussão desse feito, ele espalhou a terra contida na urna sobre o cemitério da tal capela em Sedlec, subúrbio da cidade de Kutna Hora.
O cemitério obteve, assim, a fama de “Terra Santa”.
A partir de então, muitas pessoas da região, e também estrangeiros vindos de toda parte da Europa, especialmente da Polônia, Baviera e Bélgica, faziam-se sepultar ali.
Ao longo dos anos, especialmente nos tempos das epidemias da Idade Média, milhares de pessoas encontraram naquele cemitério sua derradeira morada. As antigas escritas contam que, na época da Peste Negra em 1318, foram sepultadas ali mais de 30.000 corpos. O número de sepultamentos aumentou durante as guerras hussitas, (Igreja católica contra ideias Protestantes), aumentando a área do cemitério para 3,5 hectares.
Assim, é fácil calcular como se conseguiu tantos ossos para decorar a capela de Sedlec.
Após as guerras da época (século XV), como não havia mais espaço no cemitério para novos sepultamentos, os ossos foram sobrepostos ao redor da capela e, mais tarde, transportados para a parte interior dela. Em 1511 um monge empilhou-as em forma de pirâmide pela primeira vez.
Foi no século 18, durante a renovação do mosteiro, que o abade Snopek e o arquiteto João Santini-Aichel reformaram o espaço interno fazendo a decoração com mais de 40 mil ossos humanos.
E foram com crânios, tíbias, clavículas, escápulas, fêmures, úmeros, pélvis, tarsos, metatarsos, falanges e colunas vertebrais humanas que o sábio monge decorou altares, fez candelabros, brasões, acortinados, castiçais, lustres pirâmides e outras peças de arte sacra na Capela de Todos os Santos em Kutna Hora.
Em 1870, o padre Francisco Ront Skalice desinfetou os ossos com Cal clorado e fez a decoração que existe até hoje.
Um detalhe interessante: no topo da torre da capela, em vez de uma cruz, como tem em todas as igrejas católicas, foi colocado um “jolly roger” (aquela caveira com dois ossos cruzados).
A Capela de Todos os Santos de Kutna Hora que fica a apenas 65 km a oeste da capital Praga, é única no estilo e a mais famosa por abrigar o maior ossuário do mundo.
Fonte: Marcia Pavarini