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Iêmen – Parte I Terra de Mistérios e Fortes Tradições Islâmicas Por Márcia Pavarini

08 de outubro – Vale de Wadi Surdud/ Iemen

“Querido diário, mais uma vez eu me metendo em encrenca por fotografar sem prévia autorização. Desta vez, não me apontaram uma metralhadora, mas quase levei uma machadada no braço…”


NIKON X  MACHADO
Fiz sinal para que Mjahad parasse o carro. O motorista freou o Land Rover 4WD, posicionando-o num ângulo favorável, enquanto me dava uma ordem incontestável: _Não desça!

Depois de atravessar a região montanhosa de Al-Mahwit, a estrada desce em serpentina, ao longo das encostas, passando por férteis planícies com terraços de plantação, até atingir o fundo do vale em Wadi Sharas, onde o leito do caudaloso rio formado pelas chuvas, transforma-se em trilha pedregosa numa paisagem árida, durante o período de estiagem.

Colorindo o cenário pastel, surge um grupo de camponeses, pastorando um rebanho de cabras. Entre eles, uma mulher, cuja silhueta revelava um manequim esguio, apesar da farta vestimenta tribal, colorida, que lhe cobria da cabeça aos pés. Equilibrei a Nikon sobre a janela aberta, enquadrei o alvo, e, antes de ajustar o foco, pude ver um homem correndo em direção ao Land Rover, empunhando um machado, em posição de ataque.

Pressionei o disparador da câmera antes mesmo de ver que outro, portando uma metralhadora Kalashnikov, posicionava-se ao lado do motorista. Joguei minha câmera em baixo do banco, enquanto o jovem com o machado no ar postava-se ao lado de minha janela esbravejando, em árabe, que era proibido fotografar as mulheres.


Desvendar as tradições e a arquitetura artesanal de uma das mais antigas regiões habitadas da Terra é, certamente, uma experiência inesquecível, mas um deslize do visitante com relação às rigorosas normas de comportamento da cultura islâmica Shiita do Iêmen, pode tornar o “clima” tão quente quanto o escaldante verão do seu deserto.


Localizado ao sudoeste da Península Arábica, cruzamento entre a Ásia e a África, o Iêmen é conhecido como o país com a maior população civil armada do planeta. Para uma população de 20 milhões de habitantes, estima-se mais de 40 milhões de armas, o que significa duas ou três por cada habitante, incluindo mulheres e crianças.


A venda de armas é livre. Uma metralhadora pode ser comprada como qualquer outra mercadoria, no “suq” (mercado) de armas, por preços que variam a partir de 200 ou 300 dólares, dependendo de sua origem.
As metralhadoras russas são as mais caras.

Iemenita com Jambiya na cintura

Além das armas de fogo, a maioria dos homens leva, na cintura, a Jambiya, uma espécie de adaga abrigada numa exuberante bainha. Mas as armas brancas ou de fogo não têm, apenas, efeito ameaçador, são usadas, também, em ocasiões de festejos.


Homem empunhando a arma
Ao se ouvir uma rajada de metralhadora, é possível que os convidados estejam comemorando a celebração de um casamento, e não, fazendo a guerra. É trivial cruzar com homens, jovens e até crianças portando metralhadoras Kalashnikov e cinturões carregados com munição.


Ruínas de Mareb
O nome “Yemen” viria da palavra árabe “yumn”, que significa prosperidade e felicidade.
Prosperidade, pelo menos, nunca faltou ao antigo reinado da rainha de Sabah  com mais de três mil anos de historia.


Terraços de plantação
No início, sua economia era baseada na agricultura dos vales, onde os terraços  cultivados eram irrigados pelas chuvas das monções, captadas naturalmente, beneficiando-se da topologia local.


Mercado de incenso e mirra
Mas o Iêmen insere sua afortunada existência na história, como rota mundial do comercio de incenso, mirra, especiarias e ouro, época em que as caravanas, ao atravessarem um território, desenvolviam um comércio promissor.


Shiban
Durante muitos séculos o Iêmen manteve, impenetrável, seu passado místico. Agora, abre-se ao mundo moderno permitindo ao Ocidente descobrir suas riquezas arquitetônicas, as quais o tornam o maior museu arqueológico ao ar livre do mundo. Três de suas cidades foram declaradas, pela UNESCO, como patrimônio cultural da humanidade: a cidade fortificada de Shiban, a capital Sana’a  e Zabid a cidade mais antiga do Iêmen , fundada há quase três mil anos.

Na próxima edição, o diário continua! Não deixe de ler sobre as históricas Cidades de Tijolos de Sol do Iemen; O papel do líder na sociedade tribal; Seqüestros dos estrangeiros “à moda antiga” e a Escolta Militar para visitar as remotas vilas do Iêmen.

Márcia Pavarini

Marcia Pavarini é advogada de profissão, fotógrafa e apaixonada por viagens. Compartilha suas andanças pelo mundo no Diário das 1001 Viagens.

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