Masai: A tribo Africana que se alimenta de Sangue
Aquele homem, uma figura exótica de quase dois metros, estendeu-me a vasilha com o sangue ainda quente.
Como hóspede da tribo, recusar aquela oferenda não seria a melhor idéia, mas beber o sangue não seria a mais inteligente. Busquei socorro no olhar altivo e impassível do meu guia, que também pertencia ao clã, mas percebi que a decisão deveria ser minha.
No chão, a carne trêmula de um boi recém abatido já estava sendo devorada, crua, pelos demais membros do clã.
E, antes que eu tivesse de degustar o menu completo, cochichei no ouvido do guia que eu era vegetariana.
Eu acabava de ter o privilégio de testemunhar um ritual comum entre o povo da tribo mais colorida e famosa do mundo, a dos MASAIS na África, ou seja: beber o sangue fresco e comer a carne crua do gado.
O GADO QUE CAIU DO CÉU
Os MASAIS acreditam que durante a criação da terra, o Deus da chuva, NGAI, confiou-lhes todo o gado. Baseados nessa crença, todo gado do mundo pertence a eles e constitui o seu bem mais precioso. Em razão disso, muitas vezes entram em guerra com criadores não Masais, invadindo suas terras e apoderando-se de bois e vacas.
Na verdade, seus ancestrais vieram do Egito conduzindo lentamente o gado e foram se misturando com o povo negro do alto Nilo e leste da África.
VISITA? SÓ COM A PERMISSÃO DO MANDA-CHUVA
Avessos a estrangeiros e turistas, os Masais não gostam de visitas e repudiam, com a agressividade dos seus robustos bastões, as fotos feitas sem prévia autorização. Mas, decidida a enfrentar esse desafio, fiz a cabeça do meu guia de Safári, o Masai Alex, cuja aldeia ficava nas proximidades do meu alojamento. Dois dias depois, Alex veio com a boa notícia: o líder havia autorizado a minha visita à aldeia, após uma reunião entre os membros do clã.
A RECEPÇÃO
SAMPU-ERRAP, um Masai alto, esguio e brioso, trajando a típica vestimenta vermelho-sangue, já me esperava na entrada da Boma, aglomerado primitivo dos Masais, fazendo sinal para que eu o acompanhasse. A BOMA é rodeada por uma cerca alta feita de arbustos secos entrelaçados.
Dentro da Boma ficam as cabanas ou “ENKAJI”, semelhantes às OCAS, construídas com galhos, rejuntadas com esterco e barro e, finalmente, cobertas com pele de gado para garantir a impermeabilidade.
Cada família de Masai vive numa Enkaji
INTIMIDADE DE UMA ENKAJI
Sampu-Errap me convidou para entrar em sua ENKAJI, uma honraria concedida a poucos mortais. Tive de entrar agachada pelo pequeno orifício de acesso. Fiquei surpresa ao perceber que ali dentro também não dava para ficar em pé.
Foi necessário esperar alguns minutos até que minha vista se acostumasse à penumbra do interior. Minúsculas rachaduras permitiam que tímidos raios de sol penetrassem na rústica vivenda. Foi quando então consegui enxergar que o ambiente estava dividido em quatro cubículos: dois deles com o chão forrado de pele de carneiro.
_ Num deles, explicou Sampu-Errap, dorme a esposa com os filhos pequenos, no outro dorme o chefe da família. No terceiro, ” continuou, colocamos a vaca e o bezerro e no último uma cabra e seu cabritinho. Assim, todas as manhãs retiramos o leite das duas e alimentamos os nossos filhos”.
O DOTE É PAGO COM O EQUIVALENTE EM GADO
Quando a menina atinge a puberdade, por volta de 15 anos, é apresentada a outro clã e oferecida em casamento. O interessado deve pagar aos pais da pretendida, o equivalente em gado, o valor a ela atribuído.
ALIMENTAÇÃO
O alimento comum dos MASAIS é leite, carne e sangue que retiram do gado vivo. O leite é armazenado em cuias que são lavadas com urina de gado.
Um touro fornece em torno de um galão de sangue por mês, enquanto a vaca, no mesmo período, fornece ½ litro.
Para retirar o sangue sem sacrificar o boi, amarram um torniquete no pescoço comprimindo a veia jugular para que ela fique em evidência. Com uma pequena lança, o líder deve perfurar a veia e coletar o jato de sangue numa vasilha especial de madeira. Solto o torniquete, o sangramento é estancado e a ferida tratada com esterco.
Em razão desta dieta rica em proteína, os MASAIS possuem uma envergadura fora dos padrões africanos. Homens e mulheres são altos, esguios e fortes.
TODA CRIANÇA MASAI TEM DOIS DENTES INCISIVOS EXTRAÍDOS
Fiquei intrigada quando percebi que todos os Masais possuem uma falha dupla nos dentes incisivos. Sampu me deu a explicação: pela falha desses dentes introduzem uma cânula com alimento ou medicamento de raízes, quando um doente (criança, jovem ou adulto) não consegue se alimentar.
OS MORTOS SÃO DEIXADOS PARA AS HIENAS
Até bem pouco tempo atrás, os MASAIS não enterravam os seus mortos. No ritual fúnebre, bezuntavam o corpo do moribundo com banha de vaca, cobriam-no com pele de animal e deixavam-no nas savanas para que as hienas o consumissem.
GUERREIROS NATOS
Os Masais são guerreiros natos e destemidos caçadores de leões.
Fabricam suas próprias lanças com as quais enfrentam o rei da selva, como sinal de bravura, para impressionar uma jovem pretendida.
Após a caçada ao leão, o corajoso jovem tem o direito a usar um cocar feito com a juba do predador e carregar no peito a sua maior presa.
Na tribo dos Masais experimentei o honorável Cocar de juba de leão >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
CUMPRIMENTO MASAI
Uma cuspida na mão antes do cumprimento é sinal de respeito, reverência e consideração.
DIVIDINDO CASA E ESPOSA
Os jovens Masais que foram circuncidados no mesmo ano permanecerão num mesmo grupo pelo resto de suas vidas. Eles se ajudarão mutuamente e colocarão suas casas e esposas à disposição uns dos outros.
Atualmente, alguns jovens Masais já freqüentam escolas misturam-se entre os comuns com roupas convencionais. Muitos até desempenham papel importante nas capitais com cargos burocráticos, mas jamais deixam de assumir as suas origens.
BERÇO ESPLÊNDIDO DOS MASAIS
Os Masais vivem nas planícies da região chamada Rift Valley que vai desde o norte da Tanzânia, abrangendo o Parque Nacional do Serengeti, ao sul do Quênia, no Parque Nacional de Masai Mara.
Nestas savanas acontece um dos maiores espetáculos da natureza: a migração em massa de milhares de animais, que atravessam o rio Mara uma vez por ano durante a seca, de junho a agosto, em busca de pastagem.
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