UGANDA PARTE I – Confira a incrível experiência do encontro entre primatas e humanos.
Primos primatas de Uganda Por Márcia Pavarini Visitar um primo num país distante, não é tão difícil assim, mas quando este primo é um GORILA e mora na selva impenetrável de Bwindi em Uganda, a história fica um pouco mais complicada. São doze horas de vôo, onze de carro, duas de trilha e mais seis horas de trekking, montanha acima, pela selva impenetrável de Bwindi, para visitar nosso primo Gorila, o mais espetacular Primata da nossa era. Geneticamente, humanos e gorilas são parentes próximos. Há 97% de semelhança entre nossos genes, por isso podemos dizer que somos “primos”. A floresta impenetrável de Bwindi, distribuída numa série de picos e vales, abriga os últimos habitantes remanescentes de Gorilas da montanha. Confira, a seguir, a incrível experiência deste encontro entre humanos e primatas, no coração da selva.
Robert Ntale, um nativo, diretor da agência Cheetah Safáris, veio me apanhar no aeroporto de Entebe com a sua Suzuki 4X4. Passando por Kampala, capital de Uganda, seguimos um longo e penoso caminho de terra até o Parque Nacional de Bwindi. A proximidade da linha do equador faz Uganda parecer um país tropical de frutas com gosto de Brasil e temperatura amena.
Uganda já foi um país próspero, citado como pérola da África, mas em 1980, durante o período militar, ficou arruinada com a insanidade do tirano Idi Amin Dada . Após livrar-se do regime brutal, Uganda renasceu das cinzas. Hoje é um país em desenvolvimento.
06 de outubro: “Base camp” da floresta impenetrável de Bwind Ás 8horas da manhã, nos reunimos com os guias locais, próximo ao acampamento. Fomos divididos em 6 grupos de cinco pessoas. Cada grupo era escoltado por quatro militares, todos armados com metralhadoras Kalashnikov. Depois da chacina dos turistas por rebeldes do Congo na década de 90, o governo intensificou a segurança dos estrangeiros na área.
Após a leitura dos estritos regulamentos a serem respeitados durante a visita aos gorilas, pegamos a trilha, (de duas horas) entre plantações de banana e de chá, que nos levou até o início da escalada. Dois soldados encabeçavam a fila indiana e outros dois policiavam a retaguarda de cada grupo. A subida íngreme que precedia ao paredão de selva luxuriante deixava claro que não ia ser nada fácil. No início, o solo barrento engolia nossas botas até o tornozelo. Depois, o chão desmanchava-se em degraus de pedras soltas.
Á medida que ganhávamos altitude, a floresta ia ficando mais e mais densa. Após 6 horas de escalada pelas entranhas da mata, alcançamos a selva impenetrável. Daquele ponto em diante, para avançar, era necessário que os monitores abrissem caminho com o machado. De repente, me de dei conta de que estava no meio do nada, longe da civilização e tive uma sensação de comunhão total com a natureza. A ansiedade superava o cansaço que nos banhava de suor. O monitor fez sinal de silêncio e através de mímica indicou que deixássemos nossas mochilas no chão. Foi quando, então, percebemos um farfalhar das árvores. Para o humano, este é um dos mais eruptivos e excitantes sons da floresta e um forte indicador de que o contato visual com o mais próximo parente genético do homem é iminente. Não podíamos vê-los, mas já sentíamos a sua presença.
Poucos minutos depois, surge a criatura mais espetacular da selva. Com um olhar contemplativo, mas atento, o primata encara o seu semelhante “humano”, com quem divide 97% da carga genética. Os gorilas vivem em clãs e os laços familiares são muito fortes. Os pais brincam com seus filhotes, como nós brincamos como os nossos: de rola-rola, pega-pega, luta livre, beijos, fungadas e mordiscadas carinhosas. Eles conseguem demonstrar, através de gestos e olhares, toda gama de sentimentos humanos.
Ignorando a nossa presença, um casal de jovens gorilas copulou, em frente às nossas lentes invasivas, com expressões de deleite e com direito à “trilha sonora”.
A fastei-me do grupo procurando um solo mais propício para montar o tripé da minha Nikon (flashes são terminantemente proibidos). Do coração da mata surgiu, bem na minha frente, um enorme gorila macho adulto, carregando ternamente o seu bebê no colo. É inacreditável o carinho e o desvelo dispensados aos filhos. Rapidamente, enquadrei o alvo e ajustei foco. O “clic” seco do disparador da câmera chamou a sua atenção e fez com que ele me encarasse com um olhar profundo e desconcertante. Ficamos assim, olhando-nos mutuamente, por longos minutos. No brilho dos seus olhos, vi refletida a minha consciência e pude, então, decifrar o que ele tinha a me dizer:
“Nós, Primatas, vivemos nesta floresta há dezenas de milhares de anos. Nosso habitat permanece, desde então, imaculado. Enquanto isso, em muito menos tempo, a civilização poluiu mares e rios. Centenas de animais, peixes e pássaros correm risco de extinção em virtude da caça, pesca, urbanização e desmatamento desenfreados. A camada de ozônio que protege a Terra dos raios nocivos do sol, está definitivamente comprometida em razão dos poluentes químicos e gases tóxicos e, de tanto desperdício, as reservas naturais de água doce estão se esgotando. Então, de que vale o dom do raciocínio, se ele serve para destruir a natureza e poluir o meio ambiente? Isto é o que se chama de “evolução”? Se ser humano é isso, pra que, então, evoluir de Primata para Homo sapiens sapiens?” Leia na parte II, os segredos do curandeiro que cura todos os males com plantas e raízes da floresta de Bwindi. Descubra como se faz o Whisky de Banana, veja a estranha dança no ritual dos pigmeus Batwa.
Fonte: Por Márcia Pavarini
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