Mali – Cores da África – Por Márcia Pavarini
Texto e fotos por Márcia Pavarini
País das efêmeras mesquitas de barro, dos nômades tuaregues, das falésias rosadas de Bandiagara, do povo Dogon, das caravanas de camelo e de paisagens surreais, o Mali é um dos destinos mais exóticos e fascinantes da África sub Sahariana.É o país mais extenso da África Ocidental, com uma paisagem de indescritível beleza, marcada pela história e tradição.
A legendária cidade de Timbuktu, as construções de adobe da inigualável Djenné, o “país” Dogon e o atordoante mercado no porto de Mopti, às margens do rio Niger, são apenas quatro das inúmeras atrações do Mali.
Encravado entre sete países do oeste da África, sem saída para o mar e com dois terços do território tomados pelo deserto de Saara, o Mali ficou sob o controle da França no século XIX, conquistando a independência em 1960. A capital, Bamako, localiza-se na área fértil da região sul, onde os rios Níger e Senegal fornecem água para irrigação.
Timbuktu era posto de abastecimento das caravanas que traziam sal das minas do deserto do Saara para trocar por ouro e escravos vindos do sul, pelo rio Niger.
Timbuktu abriga 3 das mesquitas mais antigas do mundo, habilidosamente construídas com a argila local: a Djingerebur(século XIV), Sankore e SidiYahaya, que devem ser retocadas todos os anos após a breve época das chuvas.
Timbuktu foi também um grande centro da escola islâmica Ahmed Baba, com uma fantástica coleção de 30 mil manuscritos antigos, que compõem mais de um milênio de conhecimento científico, baseados em técnicas da medicina Persa de Isfahan. O mais antigo deles data do século X.
Djenné,a mais antiga cidade sub-sahariana da África, está a 354 km a sudoeste de Timbuktu e a 130 km de Mopti. Sua fenomenal mesquita-fortaleza inteiramente construída de adobe (barro seco)sobre uma plataforma retangular eleva-se tal como um castelo gótico, com seus picos querendo alcançar o céu. É a maior construção de adobe do mundo, e o mais belo exemplo da arquitetura malia.
As paredes, emplastadas de lama, possuem uma espessura que varia entre 40 e 60 cms.Apesar da aparente fragilidade, a parede é maciça o suficiente para sustentar o peso da estrutura e fornecer a isolação contra o calor abrasador da região.Uma vez por ano, após a estação úmida, acontece o festival chamado“crepissage” quando a população se mobiliza para recapear ou emplastar de barro a gigantesca edificação. Além da grande mesquita, Djenné possui outros belos exemplos de arquitetura muçulmana.
Na vila de Sanuna, de onde saem os ferrys para Djenné, se tem uma ótima oportunidade para interagir com os nativos e apreciar as exóticas vestimentas das diversas etnias, entre elas, as super enfeitadas“femmePeulh”. As mulheres “Peulh” usam esfuziantes roupas, exuberantes adornos, longos brincos e cocares de sementes, que lembram nossa Carmem Miranda.
O porto de Mopti, situado na confluência dos riosNiger e Bani, é o local mais movimentado do Mali. Oagitado mercado de peixes, frutas, verduras, especiarias, ao ar livre, é uma explosão de cores e de etnias, um encontro com culturas, civilizações e costumes de ouras épocas. É um lugar único para aqueles que vêem uma viagem exótica como um instrumento de enriquecimentointelectual. Ovai e vem de gôndolas carregadas de tralhasinspirou o apelido dado a Mopti de “Veneza da África”.
De Mopti partem os barcos para Timbuktu pelo rio Niger. É também a cidade de onde saem os tours para o “País Dogon”.
O povo Dogon, uma etnia do Mali, com cultura e idioma próprios, instalou-se inicialmente nas falésias de Bandiagara para fugir ao islamismo do Senegal. Hoje, além das falésias, vivem nas minúsculas aldeias, em casinhas de barro em forma de chaminés. Todas as portas de madeira são esculpidas em alto relevo e contam a saga da família.
Os Dogons são extremamente arraigados em suas tradições, rituais pagãos, fetiches, bruxarias, superstições, magias e adivinhações com os búzios chamados “cauris”.
A população Dogon, atualmente com 250 mil habitantes, está distribuída em 700 vilas, dividida em dois tipos básicos: Aldeias dos platôs, construídas em rochas planas entre campos cultiváveis, e a Aldeia das falésias, erigidas nas encostas da espetacular falésia rosada de Bandiagara, com 650 metros de altura e 135 km de extensão.
Caminhar pelas trilhas escavadas nos paredões das falésias,admirar as casas de pedra rosa e o cotidiano do povo Dogon é entrar no túnel do tempo.
Bandiagara e Sangha são os pontos de partida para essa alucinante aventura. O carro vai só até a aldeiade Koudou. A partir daí começa aescalada da falésia passando pelas tradicionais e quase inacessíveis vilas (Dogon habitadas) de Youga, Dogourou e Youganah dos séculos 13 e 14.
Parece cenário dos flinstones. Do topo da falésia se tem uma visão deslumbrante do vale abaixo. Ali, é fácil se imaginar no topo do mundo.
A visita ao país Dogon, certamente, representa um dos pontos altos do Mali.
Timbuktú, Djenné e o País Dogon, classificados pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, evocam a glória e o esplendor do passado, de viagens pelo deserto, de ritos e tradições ancestrais, de arquiteturas cheia de criatividade e dos territórios inóspitos onde se respira a alma da África mais autêntica.